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Chapter 32 - Ecos do sangue perdido.

Capítulo — Ecos do Sangue Perdido

O entardecer tingia o céu com tons rubros quando Kátyra e Tharion chegaram ao vilarejo abandonado de Myrrh, onde, segundo boatos recolhidos por batedores do Clã do Ar, viajantes falavam de uma criança "de olhos prateados que não chorava nunca.

O lugar era silencioso demais. As casas, tomadas por musgo e poeira, estavam abandonadas havia anos — e mesmo assim, havia pegadas recentes no solo úmido. Tharion se abaixou, tocando a terra com dois dedos.

— Pegadas pesadas... armadas... e uma menor. Estão tentando esconder que levaram uma criança. Mas falharam.

Kátyra se aproximou, o olhar perdido por um instante. Então, algo dentro dela tremeu. Um sussurro. Não vindo do mundo exterior, mas de dentro. Como se seu sangue chamasse pelo sangue que dela nasceu.

— Tharion... ele está vivo. — Ela disse, com a voz embargada. — E me chama.

O guerreiro a observou em silêncio por um momento. Pela primeira vez em dias, não zombou nem desviou o olhar. Ele apenas assentiu, respeitando aquela conexão sagrada.

Seguiram as trilhas até uma cripta em ruínas nas colinas. Lá, encontraram uma entrada selada por runas antigas, desenhadas com sangue seco. Kátyra, lembrando-se dos ensinamentos de sua avó Moira, sussurrou palavras em grego antigo. As runas queimaram em vermelho antes de se dissiparem, revelando uma escadaria em espiral que descia para as entranhas da terra.

O cheiro era de incenso e magia antiga.

No salão abaixo, três figuras de mantos escuros aguardavam. Um deles sorriu quando viu Kátyra.

— Finalmente veio, filha do Norte. O menino espera... mas ele já não é apenas vosso.

Tharion avançou com a espada em punho, mas as figuras não se moveram. Uma delas apontou para uma câmara protegida por vidro encantado. Lá dentro, dormia uma criança de cabelos prateados e um estranho brilho dourado nos olhos — mesmo adormecido, ele emanava uma aura antiga.

— O sangue dos nefilins pulsa nele. Mas também algo mais. Um traço adormecido dos que caíram. O menino é a chave. E por isso, os Darxas o querem.

Kátyra caiu de joelhos. O coração apertado. Era ele. Seu filho. Mas não como ela esperava.

— O que fizeram com ele?

— Nada — disse o líder. — Apenas despertamos o que já existia. O selo não o prende. O protege... de si mesmo.

Tharion olhou para a criança e depois para Kátyra. Algo mudava ali — o destino do mundo começava a se inclinar.

— Vamos levá-lo. Agora.

— Vocês podem tentar — respondeu a figura — mas saibam: há outros que o querem. E não serão tão... gentis.

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No final do capítulo, Kátyra quebra o selo e segura o filho pela primeira vez. Ele a toca no rosto e murmura seu nome, como se sempre a tivesse esperado. Tharion observa, com algo entre orgulho e temor nos olhos.

Ao longe, um trovão estala — mas o céu está limpo. Os ecos da profecia começaram.

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