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Chapter 82 - Capítulo 82: Ecos da Divindade

O silêncio que seguiu a fusão de Ethan com sua contraparte sombria não foi vazio. Era o tipo de silêncio que precedia a tempestade — pesado, reverente, cheio de expectativa. Tang San, mesmo experiente e portador de um poder divino, sentiu a estranha sensação de estar diante de algo que escapava até mesmo à compreensão de um Deus.

A energia ao redor de Ethan era diferente de qualquer coisa que ele já havia testemunhado. Não era apenas poderosa. Era densa, rica, antiga. Como se as próprias leis do mundo estivessem se curvando à presença daquele novo ser.

Xiao Wu observava de perto. Seus olhos brilhavam em tom violeta, a aura espiritual ressoando com a frequência que emanava de Ethan. — Tang San... ele está mudando. Não apenas fisicamente. Algo dentro dele... algo essencial... se reconectou.

E Tang San assentiu.

— Ele tocou algo que nós, mesmo como Deuses, apenas arranhamos. A Verdade. A Origem.

Enquanto os dois discutiam, Ethan permanecia de joelhos, o corpo ainda se ajustando à nova realidade. Cada respiração que dava fazia com que sua energia oscilasse, ora transbordando com o poder do caos, ora fluindo como águas calmas de um rio ancestral. Ele era, agora, uma fusão de luz e trevas, de ordem e desordem. Um equilíbrio que jamais deveria existir.

O Sistema, calado por tanto tempo, reapareceu com uma única linha em sua interface:

[Atualização Final Concluída: Host Integrado à Matriz Primordial][Modo Divino Provisório Ativado]

Mas ao contrário do que se esperaria, Ethan não se sentia invencível. Pelo contrário — sentia-se mais vulnerável do que nunca. Pela primeira vez, ele entendia o fardo que vinha com o poder absoluto: a responsabilidade de manter o equilíbrio entre extremos que nunca deveriam coexistir.

Levantando-se devagar, ele olhou ao redor. O mundo à sua volta parecia... mais nítido. Como se o véu entre realidades houvesse sido rasgado. Cada pedra, cada folha, cada sopro de vento trazia consigo um sentido oculto, uma verdade silenciosa.

— Você está diferente — disse Tang San, finalmente rompendo o silêncio.

— Porque agora eu sou completo — respondeu Ethan.

Tang San caminhou até ele, os olhos fixos na marca do infinito que brilhava no peito de Ethan. — Isso não é apenas uma evolução. É uma fusão... de duas realidades. Luz e sombra, corpo e essência. Você se tornou uma anomalia.

— Talvez — respondeu Ethan. — Mas talvez essa anomalia seja necessária. Algo grande está vindo, Tang San. E eu... posso senti-lo chegando.

Tang San franziu a testa.

— Está falando... de Qian Renxue?

— Não. Ela é apenas uma peça. Um catalisador. Há algo além dela. Uma presença que me observa desde que atravessei o Véu. Alguém que manipula os fios deste mundo. Talvez o próprio criador do Sistema.

O silêncio voltou a se instaurar. Xiao Wu se aproximou, preocupada.

— Isso significa que... ainda estamos no início?

Ethan respirou fundo.

— Isso significa que está na hora de começar de verdade.

Dias se passaram desde a fusão. Ethan permaneceu em meditação profunda em um templo nas ruínas da antiga Cordilheira do Norte. Lá, o espaço-tempo era mais fino — e ele podia ouvir sussurros vindos do núcleo do mundo.

Durante esse período, notícias começaram a se espalhar. O nome "Ethan" ecoava pelas terras, como uma lenda renascida. Alguns o chamavam de o "Equilibrador". Outros, de "Heresia Divina".

Mas ninguém conseguia ignorá-lo.

Seus antigos aliados começaram a se mover. Elyss, agora livre das feridas do Véu, procurava pistas sobre o que havia por trás da existência do Sistema. Usando sua conexão com os fragmentos do antigo mundo, ela descobriu algo perturbador:

O Sistema não era uma criação local. Ele era uma herança — uma cópia fragmentada de um projeto que ultrapassava universos. Um experimento deixado por seres que existiam antes mesmo dos Deuses.

Ela compartilhou isso com Ethan durante uma das raras pausas dele em meditação.

— Esses seres... chamavam-se "Arcontes". Eles criaram mundos como este para testar diferentes formas de equilíbrio. O Sistema... é apenas um entre milhares.

Ethan ficou em silêncio.

— E o que acontece se um dos hospedeiros ultrapassa os limites do Sistema?

Elyss hesitou.

— Não sabemos. Nenhum conseguiu antes. Até agora.

Durante a noite, Ethan sonhou com o Véu novamente. Mas dessa vez, não estava sozinho.

Uma figura surgiu das sombras — encapuzada, rosto oculto por uma máscara prateada que brilhava com símbolos em constante mutação.

— Você acordou cedo demais — disse a figura, com uma voz que soava masculina e feminina ao mesmo tempo. — Ainda não era sua hora.

— Quem é você? — perguntou Ethan, em tom firme.

— Sou o Guardião. Aquele que vela pelas matrizes corrompidas. E você, Ethan, não deveria existir.

— E mesmo assim, aqui estou.

A figura sorriu sob a máscara.

— E por isso, os Arcontes virão. Eles sentirão o desequilíbrio. E vão tentar apagar você.

Ethan estreitou os olhos.

— Que venham.

O sonho se despedaçou em mil fragmentos de luz.

Na manhã seguinte, Ethan reuniu seus aliados. Tang San, Xiao Wu, Elyss, Ning Rongrong e até mesmo Dai Mubai estavam presentes. Todos haviam sido afetados, de alguma forma, pelas recentes perturbações no mundo.

Ethan, agora mais sereno, os observava em silêncio.

— Preciso falar a verdade a vocês — começou. — O Sistema não é o que pensávamos. Não é uma criação dos Deuses. É algo externo. Algo que está nos usando como peões. E agora que comecei a entender suas engrenagens... me tornei um risco.

Todos o ouviram atentamente.

— Uma entidade chamada Guardião apareceu em meus sonhos. Ele falou sobre os Arcontes — os verdadeiros criadores do Sistema. E que eles... virão atrás de mim. De nós.

— E o que pretende fazer? — perguntou Tang San.

— Vamos à fonte — respondeu Ethan. — Há um templo oculto, escondido nas profundezas do Abismo Sem Fim. Dizem que ali repousa o primeiro Nexus do Sistema. Se encontrarmos aquilo... talvez possamos reescrever as regras.

O grupo se entreolhou. O Abismo Sem Fim era uma lenda. Nenhum explorador retornara vivo de suas profundezas.

— Se formos, não haverá volta — disse Dai Mubai.

— Eu sei — respondeu Ethan. — Mas se não formos, este mundo deixará de ser nosso.

E assim, a jornada rumo ao desconhecido começou.Com Ethan à frente, portando uma energia que fazia até mesmo os Deuses vacilarem, e seus aliados decididos a seguir até o fim, o grupo partiu.

O mundo estava prestes a mudar.

E, dessa vez, não haveria Sistema para salvá-los.

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