Os Sentinelas os tinham visto. Alarmes soaram, e o grupo partiu em uma corrida desesperada, a caixa os atrasando com seu peso.
Os pulmões de Leo queimavam enquanto corriam, o som dos Sentinelas se aproximando como batidas incessantes de um tambor. "Não dá pra fugir deles!" Max gritou, tropeçando quando a perna ferrada cedeu.
Leo parou bruscamente, praguejando baixinho enquanto segurava o braço de Max para firmá-lo. "Continua andando!"
"Tô tentando!" Max sibilou, o rosto pálido de dor. "Mas a menos que você tenha asas escondidas, a gente já era!"
O olhar de Leo caiu sobre a caixa em suas mãos. A desesperança o consumiu. Ele a bateu no chão e a forçou aberta com as mãos trêmulas.
Dentro havia um dispositivo estranho—parecido com uma arma, porém liso e alienígena, vibrando levemente com uma energia que fez os pelos de seus braços se arrepiarem.
"Que diabos é isso?" Max arfou, se apoiando pesadamente em uma árvore, o pânico se misturando ao cansaço.
"Não faço ideia," Leo murmurou, o coração acelerado enquanto segurava o dispositivo.
Assim que seus dedos se fecharam em torno do cabo, o dispositivo ganhou vida. Luzes se acenderam ao longo do corpo metálico, e algo afiado se enrolou em seu pulso, grudando como metal vivo. Uma dor aguda o percorreu, do pulso ao peito e à cabeça. Leo cambaleou, um grito escapando de seus lábios enquanto a sensação aumentava e então sumia, deixando-o sem fôlego.
"Leo! Solta!" Nia gritou, o pânico claro na voz.
Mas Leo não conseguia. Sua mão se recusava a abrir, como se o dispositivo tivesse se tornado parte dele. O metal vibrava com energia, seu brilho se intensificando, e antes que Leo pudesse compreender o que acontecia, o primeiro Sentinela apareceu na esquina.
O instinto assumiu. Sem pensar, Leo ergueu o dispositivo. Ele nem mirou—a arma se moveu sozinha, rastreando o Sentinela com precisão assustadora.
Um zumbido agudo encheu o ar, e então uma explosão brilhante de energia azul saiu do dispositivo. O disparo acertou o Sentinela em cheio no peito, arremessando-o contra uma parede com tanta força que a estrutura desmoronou ao redor. A máquina se contorceu violentamente antes de ficar imóvel, sua estrutura sem vida faiscando na luz fraca.
O grupo congelou, atônito. A boca de Nia ficou aberta, sua resposta afiada usual desaparecida. Max se apoiou na árvore, a dor momentaneamente esquecida enquanto encarava Leo e a arma fundida à sua mão.
"Que diabos acabou de acontecer?" Max conseguiu falar, a voz rouca.
Leo não respondeu de imediato, o peito ofegante enquanto encarava o dispositivo que agora zumbia suavemente em sua mão. Ele sentiu novamente—aquele calor estranho e alienígena pulsando em suas veias, sincronizado com o brilho fraco da arma.
"Não dá pra ficar aqui!" Nia soltou, tirando-o do transe. "Tem mais vindo. Vamos!"
Leo enfiou os restos da caixa na mochila e a jogou nas costas. Ele agarrou Max, ajudando-o a mancar enquanto corriam para a vegetação densa. Não pararam até estarem a quilômetros dali, escondidos sob uma copa de árvores.
Max desabou contra uma árvore, gemendo enquanto segurava a perna ferida. "A gente tá vivo… de alguma forma."
Nia andou para frente e para trás, a respiração ofegante. "Que diabos era aquilo?" ela perguntou, os olhos arregalados de medo e admiração enquanto se fixavam na arma ainda grudada na mão de Leo.
Leo não respondeu. Ele não sabia. Mas quando fechou o punho em torno do dispositivo estranho, seu brilho diminuiu levemente. A arma se soltou de seu pulso, mas um bracelete metálico estranho permaneceu. Leo sentiu uma certeza arrepiante: fosse o que fosse aquilo, não era apenas uma arma. Era algo muito mais perigoso—e agora, parecia fazer parte dele.
*FLASHBACK*
"Esses desgraçados não sabem quando parar, né?" Max falou entre dentes cerrados, empunhando uma shotgun. "Queria poder matar todos, sabe?"
Leo avistou um grupo de 'homens' uniformizados, todos de preto, com capacetes que cobriam o rosto inteiro, caminhando entre os escombros.
Há alguns instantes, ele vira uma menina pequena com olhos arregalados e cheios de desejo fixos em um embrulho de bala caído no chão. Os punhos de Leo se cerraram quando os gritos aterrorizados da garota cortaram o ar. Cada fibra do seu ser gritava para ele agir, mas a lógica o mantinha acorrentado no lugar. Ele estava impotente — e odiava isso.
Por um momento, Leo ficou preso em suas próprias memórias, mas sua fuga temporária foi interrompida por gritos ao longe. Foi quando ele se moveu, só para encontrar Max, seu melhor amigo, chamando-o de trás da carcaça de um carro abandonado. Leo olhou na direção da criança, mas, ao não vê-la, um certo alívio se formou em seu peito.
Ao voltar sua atenção para a ameaça, ele reconheceu os 'homens'. Eram os Sentinelas, guardas-máquinas oficiais que perambulavam pelos bairros à procura de pessoas em estado deplorável que pudessem lutar nas chamadas Arenas. E eles não distinguiam entre gênero ou idade.
Os Sentinelas não saíam à caça de qualquer um, a menos que houvesse uma boa chance de encontrar sua presa. Ficar vagando por aí procurando vítimas sem uma ordem oficial era trabalho dos Hunters.
Pelo que Leo podia ver, algumas pessoas haviam lutado contra os Sentinelas e acabaram no chão, perdendo a vida. Ele não podia dizer que sentia pena — afinal, pelo menos ainda estavam livres ali. Uma vez capturados, não seriam nada além de escravos.
Um som fraco chamou a atenção de Leo, e ele avistou a menina debaixo de um carro. Ela chutou acidentalmente uma lata, e esse foi seu erro.
"Debaixo do carro!" a voz abafada e robótica de um dos Sentinelas ecoou, e a garota tentou sair de debaixo do veículo e correr, mas foi rapidamente capturada.
"Max, faça alguma coisa!" Leo pressionou. Ele estava sem munição — um item escasso naquele mundo —, então só Max poderia agir.
"Porra, Leo, não dá pra lutar contra todos!" Max reclamou. Eles tinham poucas balas sobrando e, é claro, sendo dois homens magrelos, como poderiam enfrentar máquinas duronas e armadas?
Vendo a expressão no rosto de Leo, Max sabia que não adiantava continuar se recusando a ajudar. Ele soltou um rosnado baixo e atirou no Sentinela que segurava a menina.
Max praguejou baixinho, as mãos trêmulas enquanto recarregava a shotgun. "Droga, Leo. Você me deve por essa", murmurou antes de sair da cobertura. "Vaza daqui!" Max empurrou a cabeça de Leo para baixo, indicando que ele devia se agachar e rastejar para longe.
Os nós dos dedos de Max ficaram brancos de tanto apertar a shotgun quando ele saiu do esconderijo. O medo torceu seu estômago, mas ele seria condenado se deixasse Leo na mão.
"Não…"