O dia começou com fumaça no horizonte.
Uma vila próxima — Helgar — ardia. Corpos jaziam no chão, muitos deles com marcas queimadas no peito em forma de espiral.
A Seita havia passado por ali.
— Eles estão fazendo um ritual. Estão tentando abrir um rasgo — disse Velka, olhando as marcas.
— Um rasgo?
— Uma brecha entre mundos. Um canal... para ele.
Meus punhos cerraram.
Seguimos rastros até uma cratera no meio de um bosque morto. No centro, quatro figuras encapuzadas entoavam cânticos em línguas que faziam o ar vibrar. Um deles era diferente — mais alto, com uma máscara feita de ossos e uma lança negra nas costas.
— Aquele é Sarn, o "Arauto do Um". Um dos Sacerdotes Maiores. — Velka sussurrou.
Antes que atacássemos, o chão se abriu e... algo saiu.
Uma mão.
Não de carne, nem de osso, mas de pura distorção. Como se a realidade tivesse sido rasgada e algo de outro mundo tentasse escapar.
Sarn gritou:
— Caos nos guia! A Fenda se abre!
Minha cabeça explodiu em dor. Caí de joelhos, os olhos cegos por uma visão:
> Um trono flutuando em um céu sem chão. Torres viradas de cabeça para baixo. A gravidade quebrada. Milhares de olhos observando de toda parte.
E no centro, ele: Caos. Com um sorriso cruel, e correntes negras que prendiam seus pulsos — não por fraqueza, mas por equilíbrio.
> "Quebrem os selos... tragam-me de volta."
Voltei a mim gritando.
Velka já lutava, movendo-se como vento entre lâminas. Corri para Sarn e nossa luta começou. A lança dele era viva — se contorcia como uma serpente. Ele invocava ilusões, tentava me desequilibrar.
Mas então, me concentrei. Senti o poder dentro de mim... e o dominei por um instante.
Minhas mãos queimaram em negro. Um corte. Dois. Três. A lança caiu. Sarn caiu.
Mas a fenda ainda pulsava.
Velka correu, cravou sua espada no símbolo ritualístico. A terra tremeu... e a fenda colapsou.
Silêncio.
Ela se ajoelhou, exausta. Eu me aproximei, ainda ofegante.
— Eles estão tentando libertá-lo — murmurei.
— Sim... e estão perto de conseguir.
— Ele quer que eu o liberte.
— E você?
— Eu quero matá-lo. Com cada fibra do meu ser.
Velka me encarou.
— Então vamos selar cada fenda. Destruir cada pedaço da Seita. E quando chegar a hora... encarar o trono dele juntos.
Assenti. Nossos dedos se entrelaçaram. Pela primeira vez, não estávamos fugindo do destino. Estávamos correndo em direção a ele — para destruí-lo.