As árvores eram altas demais. O céu brilhava demais. E até o vento parecia cantar. Rajime caminhava em silêncio, os olhos sempre alertas, observando tudo com uma calma quase artificial. Ao seu lado, Mina saltitava entre flores roxas e cogumelos gigantes, como se tivesse caído num conto de fadas.
— Rajime! Olha isso! Essa árvore tem olhos! — ela riu, apontando uma árvore com olhos dourados piscando.
— Estamos sendo observados. — ele respondeu, frio. — Fique perto de mim.
— Ai ai... Você nunca relaxa, né?
Rajime bufou baixinho, mas olhou de lado. Ela sorria como uma tola. Uma tola linda.
Logo, chegaram a um vilarejo no vale. Casinhas de madeira com telhados de palha, fumaça saindo das chaminés, pessoas com roupas medievais carregando frutas e peixes exóticos. Assim que os viram, a vila congelou por um instante.
— Forasteiros...? — sussurrou um ancião de barba branca. — Esperem... aqueles olhos... o brasão da invocação celestial...!
De repente, todos se ajoelharam.
— Heróis escolhidos pelo Oráculo...! Por favor, salvem-nos do terror do Pardo de Garras Negras!
Rajime suspirou. Mina olhou em choque.
— Pardo...? Isso é tipo... um urso?
— Um monstro urso gigante com garras que cortam pedra. — respondeu uma garotinha. — Ele destruiu nossas defesas... e vai voltar à noite...
Antes que o sol desaparecesse totalmente, um rugido ensurdecedor sacudiu o vale.
Do topo da montanha, uma criatura colossal surgiu — enorme, com olhos vermelhos, garras negras como obsidiana e pelagem feita de sombra viva.
Mina congelou de medo. O vilarejo gritou.
Mas Rajime... apenas caminhou.
— Fiquem atrás. — disse ele, os olhos prateados brilhando com calma assassina.
O urso-monstro desceu a colina com fúria, rosnando como um demônio da floresta. Quando saltou para esmagá-lo com a pata gigante...
Rajime levantou a mão.
Uma explosão de energia dourada, pura e silenciosa, rasgou o ar.
O monstro foi lançado para trás com tanta força que partiu uma montanha ao meio ao colidir.
Silêncio.
Até Mina engasgou.
— R-Rajime... o que foi ISSO?!
Ele encarou a própria mão, impassível.
— Controle absoluto da gravidade. Simples assim.
— S-Simples...?!
Mina correu até ele, os olhos brilhando com uma mistura de medo e encanto.
— Você... você é mesmo um monstro!
— ...Obrigado? — ele murmurou, virando o rosto para esconder o leve rubor.
Mina soltou uma risadinha suave. E foi ali que o vilarejo explodiu em comemoração.
O "herói de gelo" tinha salvado o dia. E, embora ele fingisse não ligar... seu peito gelado começava a derreter, um sorriso de menina de olhos azuis por vez.