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Capítulo – Ecos da Primeira Queda
"No princípio, havia apenas o Silêncio — e dele brotaram a Voz e a Vontade."
Assim começa o Cântico das Estrelas, uma escritura proibida preservada apenas entre os Darxas mais antigos, cujas páginas jamais deveriam ser lidas sob a luz do dia.
A Primeira Aliança
Nos tempos antes do tempo, os Filhos do Firmamento, conhecidos pelos homens como anjos, observavam o mundo recém-criado com reverência. Mas alguns dentre eles — liderados por um ser cujo nome foi apagado da memória — desejaram tocar a carne, possuir a Terra, e amar as filhas dos homens.
Cem deles desceram em chamas. Chamaram-se Os Vigilantes, mas foram conhecidos como os Caídos.
De suas uniões com humanas nasceram os Nefilins, criaturas de poder colossal, inteligência anormal e espírito dividido. Tinham o sangue da luz… e o desejo da escuridão.
A Ira e o Cisma
O Criador ordenou que os Vigilantes fossem aprisionados nas profundezas e os Nefilins destruídos pelo Dilúvio. Mas alguns escaparam — levados para os desertos, cavernas e montanhas, protegidos por seus pais e seguidores mortais.
Dos que sobreviveram, surgiu um novo pacto: aqueles que escolheram proteger os homens tornaram-se os primeiros Guardiões. Eram liderados por descendentes de linhagens que buscavam equilíbrio — entre céu e terra, poder e compaixão.
Outros, porém, escolheram cultivar o rancor da punição divina, a fome de dominação, a manipulação das sombras herdadas de seus pais celestes. Esses tornaram-se os Ataxas — e deles nasceram os Darxas, o clero sombrio que canalizava poder dos mundos além.
A Raiz Dividida
Com o passar dos séculos, os Guardiões fundaram as Grandes Casas: do Urso, do Grifo, da Serpente, do Dragão, entre outras. Juraram proteger os povos comuns, conhecidos como os Jeangles, sem poderes, mas essenciais.
Mas os pecados dos antigos não foram esquecidos.
Raptos, guerras e traições resultaram nos mestiços: os Bardaxas, párias de todos os lados, portadores de dons instáveis. Nem os Guardiões nem os Darxas os aceitavam. E foi entre eles que o mais perigoso nasceu.
Erizy, o Herdeiro das Sombras
Fruto de uma união profanada entre uma sacerdotisa Darxa e um Guardião caído, Erizy cresceu escondido no Monastério dos Espelhos, onde foi ensinado a esconder a luz, cultivar o veneno e usar a beleza como armadura.
Os Darxas acreditavam que ele serviria aos seus planos. Os Guardiões jamais souberam de sua existência.
Mas Erizy traçava seu próprio caminho. Ele encontraria o que restou do sangue original dos Nefilins e o usaria para reacender a linhagem esquecida. Não como protetor… mas como rei dos sobreviventes da Queda, senhor do novo Éden: onde os homens seriam servos, os Jeangles gado, os Guardiões extintos — e os Bardaxas, seus cães de guerra.
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De Volta ao Presente
O sol poente tocava os campos calmos. O grupo cavalgava em silêncio. Depois de tantos terrores, as brisas suaves pareciam um presente... ou um aviso.
Kátyra sentia o cheiro de chuva, mas as nuvens não existiam. Aelys dizia que o vento sussurrava nomes esquecidos. Orren mantinha a mão no punho da espada. Tharion não tirava os olhos do horizonte.
— Alguma coisa está... errada. — murmurou ele.
O campo era quieto demais. O solo sem vida. As flores haviam secado — mas não morrido. Estavam se transformando.
O grupo seguia para o castelo, levando a cura e boas notícias. Mas a terra já gestava outra praga. Algo pior. Algo antigo.
O Silêncio havia retornado.
E desta vez... ele tinha voz.
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