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Capítulo – “O Conselho das Sombras” (Continuação)
A porta dos aposentos reais se abriu com um rangido suave, e Cora entrou no ambiente que, por um instante, parecia mais um cenário de um conto encantado do que um lugar que ela pudesse chamar de lar.
O silêncio era absoluto, como se o próprio castelo tivesse se curvado diante dela. Sua mão repousou sobre a maçaneta por um segundo, como se hesitasse antes de adentrar completamente. Mas ao cruzar o limiar da porta, seus olhos se arregalaram.
A cama — sempre um espaço austero e frio, onde ela costumava descansar em silêncio — estava agora coberta de joias brilhantes. O brilho das pedras preciosas refletia nas paredes, iluminando o quarto com uma luz quase sobrenatural. Ao redor, presentes valiosos estavam dispostos com precisão, como se o próprio Rei quisesse ostentar o que poderia dar — ou o que exigia dela.
Três manequins, adornados com vestidos caríssimos, se erguem, silenciosos e impessoais, no centro do quarto. Os vestidos, feitos de tecidos pesados e luxuosos, brilhavam como estrelas, mas também pareciam uma prisão de seda. Cada um representava uma parte de sua vida que o rei controlava — mas, ao mesmo tempo, se ela aceitasse esse simbolismo, ele a teria completamente.
Espalhadas por todo o quarto, flores exóticas e buquês perfumados jaziam sobre as mesas, os aparadores e até no chão, como se a própria natureza estivesse tentando se submeter aos desejos de seu esposo. Pétalas caíam aos poucos, delicadamente espalhadas, criando uma trilha que parecia levar a um destino desconhecido.
Cora fechou os olhos por um instante, tentando afastar as imagens do que acabara de ver no Conselho. Os murmúrios, o olhar de Dimitry, a necessidade de esconder suas próprias intenções. Tudo se misturava na mente dela.
Mas então, uma folha de papel repousava na mesa, quase invisível entre as flores. Ela caminhou até lá, os passos silenciosos como uma sombra. O papel estava dobrado com precisão, o selo do rei estampado na frente. Cora o desfez com um movimento rápido e leu, o coração batendo mais rápido a cada palavra:
“Me espere à meia-noite. — Dimitry.”
Um arrepio percorreu sua espinha. Não havia promessa de carinho, nem uma palavra de afeto. Apenas uma ordem, disfarçada sob a capa de um pedido. Me espere.
Ela olhou ao redor, a opulência de sua prisão real a cercando. O peso das joias, a pressão de sua posição, o toque gelado da manipulação do rei. Cada vestido, cada presente, era uma corrente invisível que a prendia mais profundamente no jogo de poder que ela e Dimitry estavam jogando.
Mas Cora não era tola. Sabia que, por trás da aparente generosidade, o rei esperava algo de sua submissão. O que seria, ela ainda não sabia, mas sua mente estava murmurando respostas, se preparando para o que poderia ser a última jogada de Dimitry.
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Cora olhou uma última vez para os manequins e os presentes espalhados pelo quarto, como se o castelo inteiro estivesse observando suas decisões. Ela então se virou, fechando os olhos mais uma vez, e caminhou até a janela. O céu estava escuro e sombrio, refletindo a tempestade interior que ela sentia. Lá fora, o reino esperava por respostas. Dentro de si, ela se preparava para o próximo movimento.
À meia-noite, tudo seria revelado.
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Capítulo – “O Conselho das Sombras” (Conclusão)
O som dos passos ecoou pelo corredor como um sussurro urgente, até que a porta dos aposentos reais se abriu de súbito. Cora se virou lentamente, envolta na penumbra. As velas tremeluziam, lançando sombras nos presentes espalhados, como se o quarto estivesse respirando junto com ela.
Dimitry entrou apressado. Seus cabelos estavam levemente desalinhados, e os olhos — tão frios no conselho — agora estavam marejados, carregando um brilho que ela não via há muito tempo. Ele atravessou o quarto sem dizer palavra, parando diante dela como um homem vencido pelo próprio plano.
— Cora... — sussurrou.
Ela não respondeu.
Em um gesto impulsivo, ele a abraçou com força, como se aquele gesto pudesse apagar tudo. Mas o abraço foi recebido com uma bofetada sonora. O rosto do rei virou com o impacto, mas não reagiu com raiva. Riu. Um riso breve, exausto, desesperado.
Então caiu de joelhos diante dela.
— Me perdoa, minha rainha... — disse, com a voz trêmula. — Era a única maneira. A única forma de fazer você visitar Kátyra... de quebrar esse muro que você mesma ergueu depois de tudo.
Cora permaneceu em silêncio, olhos arregalados. O rei manteve-se ajoelhado, as mãos estendidas como um homem implorando por absolvição.
— Se quiser me odiar... me odeie. Mas eu só queria que você fosse feliz.
Ela se afastou um passo, confusa e furiosa.
— Por que não me contou? — perguntou com frieza. — Por que me tratou como um joguete?
Ele tentou falar, mas as palavras saíram truncadas, sem a força de costume.
— Eu... eu temi que, se eu dissesse, você... recusaria. Você não confia mais em mim. Você teria... trancado o coração outra vez. — Olhou para o chão. — Então eu fiz o que sempre faço. Controlei. Manipulei. Perdi você mais um pouco.
Houve uma longa pausa. O som das chamas, o leve bater das pétalas ao chão, o ar denso entre os dois.
Cora o observava — o rei, seu rei, caído, vulnerável, humano. E mesmo assim, ela não sabia se aquilo era verdade... ou apenas mais um capítulo da grande encenação.
— Você me jogou aos lobos. — murmurou. — E agora espera que eu volte inteira pra você?
Ele apenas abaixou a cabeça.
Ela suspirou, cansada. Sabia que o jogo de Dimitry sempre envolvia riscos e dor — e que o amor deles era uma tapeçaria feita de fios entrelaçados por orgulho, perdas e promessas quebradas.
— Levante-se. — disse enfim.
Ele obedeceu. Mas o olhar dela não era o de uma esposa perdoando. Era o olhar de uma rainha diante de um rei que, mesmo em sua sinceridade, talvez tivesse ido longe demais.
— À meia-noite, você teve o que queria. Mas não o que precisa.
Ela virou-se, indo até a janela.
E atrás dela, o rei ficou em silêncio. Pela primeira vez em muito tempo, sem ter o que dizer.
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