A tensão pairava como uma neblina densa sobre o campo de treinamento. O céu ainda estava tingido por tons dourados e alaranjados do entardecer, mas a beleza do cenário contrastava violentamente com o que se passava entre os dois jovens cultivadores. Shin Ryouma e Tang San estavam frente a frente. As palavras de provocação já haviam cessado. Agora, o silêncio gritava mais do que qualquer insulto.
Tang San havia dado um passo à frente, seus olhos azuis como safiras congeladas em frieza. Embora sua expressão continuasse serena, havia uma pressão em seu entorno que parecia comprimir o ar. Uma intenção assassina sutil, quase imperceptível para os outros alunos, mas clara como cristal para Shin.
Ele reconheceu o sentimento de imediato — a aura de alguém que já havia matado. Não era algo que se aprendia, era algo que se carregava.
— Você treinou para matar — sussurrou Shin, com um sorriso sarcástico nos lábios. — Alguém com tanto zelo em esconder seu verdadeiro poder e ainda assim não sabe disfarçar sua sede de sangue. Isso é descuido... ou é ameaça?
Tang San não respondeu imediatamente. Ao invés disso, seus olhos fitaram Shin com atenção renovada.
— Você não é um discípulo comum — disse Tang, por fim. — Seus instintos são aguçados demais para alguém recém-chegado à academia. Quem é você de verdade?
Shin soltou uma risada baixa, sem humor.
— E você... deveria se preocupar mais com a máscara que veste do que com a que eu uso. Afinal, esconder seu segundo espírito é um jogo perigoso, não é, Tang San?
Os olhos de Tang se estreitaram por um segundo. Um pequeno lapso — mas suficiente. Shin notou.
"Então é verdade. Ele realmente está escondendo o Martelo do Céu Claro."
Antes que qualquer um dos dois pudesse prosseguir, uma onda de energia se expandiu pela arena improvisada. Vários alunos, antes distantes, começaram a correr na direção do campo. Entre eles, Xiao Wu vinha à frente, com expressão preocupada. Ao seu lado, Oscar e Ma Hongjun vinham em passo acelerado.
— Tang San! O que você está fazendo? — gritou Xiao Wu, atravessando a distância em um salto ágil.
Tang recuou um passo. Sua expressão voltou a se suavizar, embora seus punhos ainda estivessem cerrados. Shin, por sua vez, apenas ergueu uma sobrancelha, colocando as mãos para trás com desdém.
— Vocês acham que foi alguma briga? — disse ele em tom alto o suficiente para todos ouvirem. — Não. Eu apenas disse a verdade... E parece que a verdade dói mais do que qualquer soco.
Xiao Wu se virou para ele, olhos faiscando.
— Você está arrumando confusão com o Tang San de propósito?
— E se estiver? — respondeu Shin, encarando-a diretamente. — Talvez ele precise ser provocado. Afinal, esconder demais quem se é pode levar à podridão.
Antes que Xiao Wu pudesse responder, uma nova presença surgiu no campo — uma ainda mais imponente.
O Mestre, Yu Xiaogang, havia chegado.
— Chega — disse ele, sua voz como aço contra pedra. — Não haverá duelos hoje. Qualquer tipo de confronto fora do cronograma oficial será punido severamente.
Tang San respirou fundo. Aquela aura assassina lentamente se dissipava. Shin manteve o olhar fixo no rapaz, como se esperasse que algo explodisse dali. Mas, ao final, Tang apenas assentiu, virando-se e indo embora sem dizer mais nada.
Shin ficou parado por alguns segundos, até que sua interface do sistema brilhou diante de seus olhos.
[Atualização de Sistema] Você enfrentou o olhar assassino de um futuro Imperador Espiritual. Habilidade Passiva Desbloqueada: "Intuição de Caçador" – Aumenta em 30% a percepção de hostilidade e intenção assassina ao seu redor. Tempo de resposta aumentado em situações de combate surpresa.
Ele sorriu. A sensação era estranha: como se estivesse jogando um jogo onde cada ação, cada provocação, cada confronto psicológico lhe rendesse algo concreto. Mesmo um simples embate de palavras podia ser uma arma.
E ele pretendia usar todas.
Naquela noite, Shin subiu até o telhado do dormitório, onde podia ver a lua refletida em seu Espírito Espiritual. O mundo de Douluo Dalu era mais complexo do que lembrava das leituras. Os personagens não eram simples. Tang San não era apenas um herói. Ele era um jovem com segredos, ambições, e, principalmente, uma escuridão que poucos reconheciam.
"E eu serei a faísca que acenderá essa escuridão", pensou Shin. "Se for para derrubá-lo, terá que mostrar quem realmente é. Não apenas o discípulo obediente... mas o herdeiro do Céu Claro."
Ele fechou os olhos, e imediatamente o Sistema respondeu ao seu chamado.
[Sistema de Esforço Infinito – Interface Avançada] Estado Atual: Espírito Espiritual Primário: "Espelho do Abismo" Espírito Secundário: Desconhecido – Aguardando Evolução Treinamento Recomendado: Reforço de Controle Espiritual (Nível de dificuldade adaptado) Condição de Missão: Observar e Desvendar o Segundo Espírito de Tang San (Recompensa Especial Oculta)
"Então até o sistema está me empurrando nessa direção, hein?" Ele se espreguiçou e murmurou para o céu. "Tudo bem. Vamos brincar de verdade então."
Dias Depois
Shrek voltava à rotina de treinamentos intensos. A presença de Shin era como um espinho cravado sob a pele de Tang San, mesmo que ninguém comentasse em voz alta. As faíscas entre os dois surgiam mesmo em atividades banais.
No campo de treinamento de controle de habilidades, o grupo foi dividido em duplas. Shin e Tang San acabaram juntos, graças à "aleatória" decisão de Yu Xiaogang. Mas Shin não acreditava em sorte.
Tang San manipulava suas fitas azuis com precisão absurda, envolvendo alvos a dezenas de metros. Shin, por sua vez, usava o Espelho do Abismo para copiar habilidades simples de manipulação espiritual — e depois as reproduzir com variações perturbadoras.
— Copiar é fácil. Melhorar é arte — comentou ele, enquanto replicava a técnica de Oscar de gerar salsichas de cura, mas alterando seu formato para esferas energéticas que recuperavam vigor ao serem esmagadas.
Oscar, ao ver isso, ficou entre encantado e ofendido.
— Isso é... isso é roubo criativo!
Shin sorriu, mas Tang San apenas fitava com olhos estreitos.
— Você está brincando com coisas que não entende.
Shin riu.
— E você está se escondendo atrás de uma glória que ainda não conquistou. Estamos quites.
O estalo seco de algo se quebrando ecoou pela arena. Tang havia usado força demais em sua fita de controle, e uma das plataformas de treino ruiu. Ele respirou fundo, tentando se acalmar.
Mas Yu Xiaogang notava. Algo no equilíbrio emocional de Tang estava sendo corroído — e era Shin o responsável.
Noite
Shin descia discretamente para a floresta próxima à academia, onde havia um pequeno campo isolado. Era seu local de treino pessoal. Mas naquela noite, ele não estava sozinho.
Do meio da mata, uma figura surgiu: Dai Mubai.
— Você está chamando muita atenção — disse o tigre branco, os olhos brilhando sob a luz da lua.
— E isso te incomoda?
— Me incomoda você provocar o Tang San — respondeu Mubai, se aproximando. — Mas me interessa alguém que consiga irritá-lo desse jeito. Você não quer vir treinar comigo por uma noite?
Shin arqueou uma sobrancelha.
— Proposta interessante. Qual a pegadinha?
— Nenhuma. Só quero ver até onde vai a sua audácia... e se você é mesmo tão forte quanto age.
Shin sorriu.
— Então vamos treinar. Mas já aviso: se eu te derrubar... vou cobrar algo em troca.
— E se eu derrubar você?
— Eu não aposto em derrotas.
Treinamento Mortal
O embate com Dai Mubai foi feroz. Não havia malícia, apenas brutalidade. O sistema de Shin registrava cada golpe, cada movimento, cada falha e ajustava seus reflexos. O Espelho do Abismo absorvia traços da essência da força do tigre branco, não copiando literalmente, mas adaptando técnicas de combate físico ao seu estilo evasivo.
Quando Mubai desferiu um soco com força suficiente para partir uma árvore ao meio, Shin o esquivou por centímetros, e contra-atacou com um chute no queixo que fez o príncipe cambalear.
[Missão Completada: Sobreviva a um embate completo com Dai Mubai] Recompensa: "Adaptação Muscular Intermediária" – seu corpo aprende mais rápido com golpes físicos. Aumento de 20% na velocidade de reação em combate corpo-a-corpo.
Ambos caíram exaustos no chão. Mubai riu primeiro.
— Você é mesmo um problema.
Shin virou o rosto para o céu, ofegante.
— É. E vou ser um problema maior ainda.