Atravessar o portal foi como mergulhar em um redemoinho de luz e gravidade.
Por um instante, perdi toda a noção de tempo e espaço.
Quando meus pés tocaram o chão novamente, cambaleei para frente, caindo de joelhos.
Levantei a cabeça e... fiquei sem palavras.
O mundo diante de mim era simplesmente colossal.
Uma floresta densa, com árvores tão altas que seus topos se perdiam nas nuvens.
As folhas tinham tons de verde tão intensos que pareciam brilhar.
No ar, pairava um cheiro forte de terra úmida e vida selvagem.
Lá longe, vi montanhas flutuando lentamente no céu, envoltas em neblina dourada.
O chão sob meus pés parecia pulsar, como se a própria terra estivesse viva.
Era como os livros de pré-história, que eu lia para Eunha quando era criança — mas ainda mais selvagem, mais cru, mais... verdadeiro.
Fiquei de pé, maravilhado.
— Bem-vindo à Terra Espelhada — disse Baek Hojin atrás de mim, com um sorriso discreto.
Me virei, os olhos arregalados.
— Isso... isso é real?
Ele assentiu.
— Real demais.
Caminhamos juntos por uma trilha natural, entre árvores enormes.
Enquanto andávamos, Hojin começou a falar, como se estivesse recitando uma velha história.
— Cada animal que você conhece na Terra normal... tem uma variante aqui.
— Variante?
— Humanos misturados a eles.
Humanoides com presas, garras, escamas, asas...
Criaturas que evoluíram junto com a selvageria deste lugar.
Apontou para o céu.
— Este mundo... era o habitat original da humanidade.
Meus passos vacilaram.
— O quê?
Hojin olhou para mim, sério.
— Houve um tempo em que os humanos dominavam aqui também.
Mas as variantes — esses seres meio-animais — começaram a superar os humanos em força, velocidade e instinto.
Gradualmente, os humanos foram caçados... até serem extintos.
O vento uivava entre as árvores, como se confirmasse suas palavras.
— O que restou da humanidade... escapou para o outro mundo. — Ele indicou o céu, como se falasse da nossa Terra. — Para sobreviver.
Fiquei em silêncio, tentando processar.
— E... por isso existem dois mundos? — perguntei.
Hojin assentiu.
— Dois reflexos.
Um mundo onde os humanos persistiram sem evoluir fisicamente, e outro onde a natureza... tomou o controle.
Olhou para o meu relógio de bolso.
— E é por isso que, quando alguém da nossa Terra entra aqui, a Terra Espelhada responde.
— Responde como?
— Te concede poder.
Seus olhos brilharam.
— Porque, de alguma forma, a própria essência deste mundo reconhece os humanos como parte dele.
Como se o universo ainda quisesse equilibrar as coisas.
Caminhamos até uma clareira onde o céu se abria.
O vento trouxe consigo o rugido distante de alguma criatura colossal.
— Quando você luta aqui — continuou Hojin —, seu corpo se adapta.
Você conquista fragmentos esquecidos da humanidade antiga...
E quando volta, carrega esses fragmentos com você.
Passei a mão na grama estranhamente espessa.
Tudo parecia mais vibrante, mais denso, mais selvagem.
Era um mundo onde cada passo parecia uma batalha silenciosa pela sobrevivência.
— Então — disse ele, parando na borda da clareira — ...a pergunta é:
Hojin se virou para mim, o rosto sério.
— Você vai recuperar seu lugar aqui... ou vai ser engolido como os outros?
O vento soprou forte, curvando as árvores gigantes ao nosso redor.
Senti o peso da escolha.
O peso da história.
O peso do que eu estava prestes a enfrentar.
E pela primeira vez, não tive medo.
Só uma vontade ardente.
— Eu vou conquistar esse mundo — respondi.
Hojin sorriu, satisfeito.
— Ótimo.
Porque agora... o verdadeiro treinamento começa.