O som dos nossos passos ecoava pelo corredor vazio do Armazém 7.
O cheiro de poeira e ferrugem enchia o ar.
O chão rangia a cada passo.
Andávamos lado a lado em direção ao fundo, onde a escuridão parecia mais espessa.
Foi então que Baek Hojin quebrou o silêncio.
— Sabe, garoto... você me lembra de mim mesmo.
Olhei para ele, surpreso.
Ele continuou, olhando para frente, a voz tranquila.
— Eu também era um lixo na sociedade. Sem nada. Sem futuro.
Ninguém acreditava em mim. Nem eu acreditava em mim.
Fez uma pausa, chutando uma lata amassada do caminho.
— Até que um dia, vagando sem rumo... encontrei isso aqui.
Ele apontou para o fim do corredor.
Uma parede aparentemente comum, mas que brilhava levemente com uma luz estranha, quase imperceptível.
— Um portal. Uma passagem para outro mundo. — Sorriu de canto. — Terra Espelhada.
Meu coração disparou.
Estava ali, diante dos meus olhos.
— No começo, eu quase morri — continuou ele, a voz ficando mais baixa. — Fraco, perdido...
Cada batalha era uma luta para respirar mais um dia.
Não sabia lutar, não tinha equipamento, não tinha poder.
Ele parou e se virou para mim.
Seus olhos, por baixo do chapéu de palha, não tinham a habitual preguiça.
Tinham peso. Histórias.
— Mas eu não desisti.
Hojin tirou do bolso uma velha corrente com um pingente de ferro gasto.
— Já tive parceiros também. Garotos e garotas como você.
Alguns desistiram.
Alguns morreram.
Alguns... desapareceram para sempre.
Eu segurei o relógio de bolso no meu próprio bolso, sentindo o peso simbólico.
— E mesmo assim... — Hojin sorriu de novo, desta vez de maneira suave — ...eu continuei acreditando.
— Acreditando em quê? — perguntei, sem conseguir evitar.
Ele colocou a corrente de volta no bolso.
— Que algumas pessoas, por mais quebradas que estejam... ainda têm um fogo dentro delas.
Um fogo que pode queimar mais forte do que qualquer tempestade.
Deu um passo adiante.
A luz do portal pulsou, convidativa e ameaçadora.
— Vamos ver, garoto.
Se você é um desses.
Engoli em seco.
Sem mais palavras, seguimos para a parede brilhante.
A poucos metros dela, senti o ar mudar.
Era mais denso, mais pesado... e cheirava a terra molhada e floresta.
O portal parecia vibrar com vida própria, como se reconhecesse nossa aproximação.
— Daqui para frente — disse Baek Hojin, tirando o chapéu e o colocando sob o braço — ...não existe volta fácil.
Ele estendeu a mão para mim.
— Pronto?
Olhei para aquela mão calejada, para aquele homem que uma vez também foi um fracassado como eu.
E, sem hesitar, segurei sua mão.
— Pronto.
E juntos, atravessamos o portal.
Rumo ao desconhecido.