Cheguei em casa exausto, com os pensamentos girando.
A luz do apartamento minúsculo estava fraca, e o som da televisão velha preenchia o silêncio.
No sofá, enrolada em um cobertor, minha irmã Eunha sorriu quando me viu.
— Bem-vindo, oppa.
Sentei ao lado dela, tentando não deixar o nervosismo transparecer.
— Eunha... — comecei, segurando sua mão fria — Eu consegui uma nova oportunidade.
Seus olhos brilharam, curiosos.
— Oportunidade?
Assenti.
— Um trabalho. Melhor.
Muito perigoso, mas... vai nos dar dinheiro suficiente para seu tratamento.
Ela mordeu o lábio inferior, preocupada.
— Você vai se machucar?
Sorri para tranquilizá-la.
Não podia deixá-la sentir medo.
— Vou ficar bem.
E, além disso... — levantei o pequeno relógio de bolso que Baek me deu — ...prometi que vou voltar para te ver todos os dias.
Ela tocou o relógio com os dedos finos e trêmulos, como se fosse um tesouro.
— Então eu vou esperar. Todos os dias, oppa.
Seu sorriso era fraco, mas verdadeiro.
E por esse sorriso, eu enfrentaria qualquer inferno.
No dia seguinte, fui até o restaurante onde trabalhava pela última vez.
O lugar, apertado e gorduroso, parecia ainda mais sujo do que antes.
O chefe — um homem baixo, gordo e de cara vermelha — estava no balcão, como sempre.
Quando anunciei minha demissão, ele explodiu.
— Hã?! Você acha que pode sair assim, seu inútil?
Você mal presta para lavar pratos, acha que vai fazer o quê?
Virar empresário? Caçador? — ele gargalhou, cuspindo saliva.
Mordi a língua para não responder.
Apenas tirei o avental sujo, dobrei cuidadosamente e coloquei no balcão.
— Obrigado pela oportunidade — disse, me curvando levemente.
Sem esperar resposta, saí pela porta, ignorando os gritos atrás de mim.
Aquele lugar era o símbolo da vida miserável que eu deixava para trás.
E agora, eu estava livre.
No segundo dia, acordei cedo, antes mesmo do sol nascer.
Vesti minha única roupa decente: uma calça jeans gasta e uma camiseta preta.
No bolso, o relógio de bolso.
A rua ainda estava silenciosa quando caminhei até o ponto de encontro.
O Armazém 7 parecia ainda mais sombrio de manhã.
Mas ali, encostado contra a parede, com seu eterno chapéu de palha e um sorriso preguiçoso no rosto, estava Baek Hojin.
— Você veio — disse ele, como se duvidasse que eu teria coragem.
Assenti, firme.
— Estou pronto.
Ele riu, batendo nas próprias coxas como se achasse tudo hilário.
— Vamos ver se está mesmo.
Virou-se e começou a caminhar em direção à entrada escura do armazém.
Respirei fundo.
Sem arrependimentos.
Sem voltar atrás.
E o segui.
Para o novo mundo que me esperava.